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Amamentar e trabalhar: É possível!

Ser mãe é uma das maiores dádivas na vida de uma mulher. Sentir uma vida crescendo dentro de si e poder cuidar dela ao longo dos anos é algo profundamente transformador. No entanto, a maternidade também traz desafios, e um dos maiores é conciliar a carreira com os cuidados do bebê, especialmente quando ele é recém-nascido. Às vezes, pela pressão de voltar rapidamente ao trabalho, mães que amamentam veem-se obrigadas a desmamar seus filhos antes do tempo recomendado ou a deixar o bebê aos cuidados de outras pessoas.

A importância da amamentação

A amamentação é uma das formas mais eficazes de garantir a saúde e a sobrevivência da criança. Por isso, foi criada a Semana Mundial da Amamentação, uma iniciativa apoiada pela OMS, pelo UNICEF, por diversos Ministérios da Saúde e por parceiros da sociedade civil.

Dados da OMS mostram que, anualmente, mais de 820 mil vidas de crianças menores de cinco anos poderiam ser salvas em todo o mundo, se todas as crianças de 0 a 23 meses de idade fossem amamentadas adequadamente. Lamentavelmente, a nível mundial, quase 2 em cada 3 bebês não são amamentados exclusivamente durante os seis primeiros meses de vida, como é recomendado.

Estudos mostram que o aleitamento materno é um dos melhores investimentos para salvar vidas infantis, melhorar a saúde e promover o desenvolvimento social e econômico de indivíduos e nações.

Mães e o ambiente de trabalho

O retorno ao trabalho após a licença-maternidade é um momento repleto de desafios para muitas mulheres. Algumas relatam sentir pressão no ambiente profissional após terem filhos, enquanto outras voltam com receio de perder o emprego ou de não conseguirem manter o mesmo rendimento de antes.

A transição de volta ao ambiente profissional, após meses dedicados aos filhos, pode ser acompanhada por sentimentos de culpa, ansiedade e preocupações sobre como equilibrar as responsabilidades profissionais e pessoais.

Como as entidades empregadoras podem tornar possível amamentar e trabalhar?

A Lei Geral do Trabalho em Angola (Lei n.º 12/23, de 27 de dezembro, art. 30) estabelece direitos importantes para trabalhadoras grávidas ou lactantes. Um deles é:

  • As interrupções do trabalho diário para aleitamento […] ocorrem nos momentos escolhidos pela trabalhadora, sempre que possível com o acordo do empregador. No caso de o filho não a acompanhar no local de trabalho, essas interrupções são substituídas pelo alargamento do intervalo para descanso e refeição em uma hora ou, se a trabalhadora preferir, pela redução do período normal de trabalho diário, no início ou no fim. Em qualquer caso, não haverá diminuição do salário, por um período de até doze meses.

A melhoria das taxas e práticas de aleitamento materno é uma necessidade fundamental para a saúde das crianças e requer a ação de múltiplos atores, incluindo o governo, os profissionais de saúde, as empresas e a sociedade civil, assim como a criação de unidades de saúde, comunidades e locais de trabalho que sejam amigos da amamentação.

As entidades empregadoras podem investir em iniciativas que previnam afastamentos e promovam o equilíbrio entre maternidade e carreira no ambiente de trabalho.

Além de seguir o que foi estipulado por lei, outra maneira de as entidades empregadoras apoiarem as colaboradoras cujos filhos se encontram em fase de amamentação é:

  • Disponibilizar uma sala de amamentação preparada para que, de modo confortável, seja possível realizar a recolha de leite durante o horário laboral e conservá-lo num frigorífico.

Além disso, empresas com maior poder financeiro podem criar uma creche para oferecer mais tranquilidade às suas colaboradoras. No entanto, é importante ter em mente que elas continuam a ter direito à licença complementar de maternidade, mesmo que haja um infantário ou creche no local de trabalho.

Dicas úteis para a mãe que trabalha fora se preparar e garantir que a amamentação do bebê não seja interrompida:

Se a mãe já sabe o dia em que deve voltar ao trabalho, a dica é começar a ordenhar o leite materno 15 dias antes do retorno, para garantir um estoque para o período inicial de ausência. O ideal é retirar o leite excedente após as mamadas ou aguardar cerca de uma hora e meia depois que o bebê for amamentado. A mãe deve procurar um local agradável, lavar bem as mãos, prender os cabelos e evitar falar enquanto realiza a ordenha.

Antes de voltar ao trabalho, a mãe pode tentar negociar um horário de expediente flexível ou, se a profissão permitir, realizar parte da jornada em casa.

Se a empresa disponibilizar uma creche própria, nos horários das mamadas a mãe pode se ausentar do trabalho para amamentar o bebê. Outra opção é que alguém de confiança leve o bebê ao encontro da mãe para que seja amamentado durante o dia.

De modo geral, é possível dizer que equilibrar a maternidade com a vida pessoal e profissional continua sendo um dos maiores dilemas enfrentados por mulheres em todo o mundo, mas é algo que pode ser resolvido com cooperação da sociedade, do Governo, e das entidades empregadoras.

Dra Renata Libano 
Médica da Família e Comunidades
Gestora do PAIS