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A culpa e o cansaço materno: como isso afeta as mulheres?

O nascimento de um filho é um momento que transforma para sempre a vida de uma mulher. A maternidade vem acompanhada de alegrias e descobertas, mas também de desafios, dúvidas e expectativas da sociedade, da família, da internet e, principalmente, da própria mãe. E, junto com essa jornada tão profunda, surge um sentimento que muitas conhecem bem: a culpa!


Culpa por não ter conseguido amamentar.
Culpa por se sentir cansada.
Culpa por passar o dia trabalhando fora.
Culpa por não dar conta de tudo.
Culpa até por querer um tempo sozinha.

A culpa materna é um sentimento comum, que pode surgir em diversas situações: a sensação de não estar fazendo o suficiente pelos filhos, o excesso de trabalho ou até a forma como se relaciona com eles.

Ser mãe na vida real é muito diferente de quando se brincava de mãe de mentirinha. Mas será que, quando uma mulher se sente exausta das responsabilidades maternas, não poderia se permitir, mesmo que por um instante, descansar delas tal como fazia quando era criança?

O impacto do cansaço materno na saúde mental

A saúde mental materna tornou-se uma preocupação global, à medida que as sociedades reconhecem a importância de oferecer apoio psicológico adequado às mães durante a gravidez, o parto e o pós-parto.

Com a chegada de um bebê, não é apenas ele que precisa de cuidados: a mãe também necessita de atenção!

Nesse período, a mãe enfrenta mudanças hormonais, alterações no próprio corpo, privação de sono, amamentação, adaptação à nova rotina e necessidades pessoais que muitas vezes ficam de lado devido às demandas do bebê. Somam-se a isso medos, dúvidas e dilemas emocionais. Tudo isso pode gerar cansaço extremo, estresse, ansiedade e até depressão pós-parto.

Além disso, a pressão para ser uma “mãe perfeita” contribui para sentimentos de inadequação e culpa, seja por querer trabalhar, seja por tomar decisões pessoais que não correspondem às expectativas externas. A maternidade afeta a saúde mental de diversas formas, trazendo tanto momentos de felicidade quanto desafios emocionais.

A falta de apoio e a sobrecarga de tarefas impactam diretamente o bem-estar emocional. Muitas mães relatam que o acúmulo de responsabilidades e a ausência de tempo para si mesmas estão entre os maiores desafios da maternidade.

A psicoterapeuta Dulce Amabis defende a importância de mães e pais cuidarem de si mesmos e da relação como casal. Ela afirma que: “A rigidez dos cuidados com os bebês e as crianças, seguindo todas as normas, muitas vezes faz com que as mães se percam de si mesmas”.

A sobrecarga materna pode levar a quadros de exaustão emocional, ansiedade e depressão. O excesso de responsabilidades, quando não há uma rede de apoio adequada, pode resultar no chamado burnout materno, caracterizado por esgotamento físico e psicológico intensos.

O puerpério e a importância de uma rede de apoio

A fase mais cansativa da maternidade varia de mãe para mãe, mas o puerpério, especialmente nos primeiros meses após o parto, costuma ser um dos períodos mais desafiadores.

O puerpério emocional é marcado por intensas mudanças psicológicas. A mãe pode vivenciar sentimentos contraditórios, como alegria e tristeza, amor e medo. É uma fase de adaptação que pode envolver crises de identidade, insegurança e até episódios de depressão pós-parto. Por isso, o suporte psicológico e o autocuidado são essenciais para atravessar essa etapa com mais equilíbrio.

Nesse momento, a mãe precisa ser acolhida, e não julgada, seja por errar, querer descansar ou desabafar que está difícil. Ela precisa de um ambiente seguro para expressar seus sentimentos e preocupações, além de relações saudáveis que ofereçam apoio emocional.

Logo após o nascimento do bebê, contar com uma rede de apoio torna tudo mais leve e ajuda a mãe a enxergar a maternidade de forma mais saudável. Essa rede pode incluir familiares, amigos, vizinhos e profissionais de saúde, e desempenha um papel crucial para diminuir as dificuldades e aumentar a capacidade de lidar com os cuidados do bebê.

Mães que amamentam também precisam de cuidado e suporte. Algumas formas de ajudar são:

  • Escute, sem julgar.
  • Ofereça ajuda prática, como cuidar do bebê para que a mãe possa dormir, tomar banho ou comer.
  • Console e encoraje, em vez de criticar.
  • Tire a mãe da rotina — atividades fora de casa podem aliviar a frustração e reduzir o risco de depressão.

Uma rede de apoio não é apenas companhia: é um alicerce que sustenta a mãe em um dos momentos mais intensos da vida.

A maternidade para além da romantização: enfrentando a culpa materna

Embora muitas vezes seja retratada como um período de plenitude e realização, a maternidade também pode ser complexa e solitária. A romantização desse momento faz com que mães reais sintam culpa e até acreditem estar fracassando.

O medo de não ser uma boa mãe, a exaustão e a necessidade constante de se reinventar podem gerar estresse, ansiedade e até depressão. Quando não existe suporte adequado, esses sentimentos tendem a se intensificar.

Muitas mães enfrentam jornadas exaustivas sem a rede de apoio necessária, acumulando responsabilidades e sobrecarga emocional. Reconhecer essa realidade é o primeiro passo para oferecer acolhimento, empatia e suporte a quem cuida.

Aqui estão 4 dicas para lidar com a culpa materna:

  1. Converse com outras mães
    Compartilhar o que você sente e ouvir experiências de outras mulheres ajuda a perceber que não está sozinha nessa jornada.
  2. Seja gentil consigo mesma
    Entenda que não existe mãe perfeita. O que as crianças precisam é de mães presentes e atentas. Faça o seu melhor e não tenha receio de pedir ajuda.
  3. Cuide de si mesma
    Separe um tempo para cuidar da mente e do corpo. O autocuidado é essencial para manter o equilíbrio. Atenda às necessidades dos seus filhos, mas não se esqueça das suas.
  4. Busque ajuda, se necessário
    Se a culpa estiver pesada demais, procure o apoio de um profissional. Psicólogos podem ajudar a compreender e superar esses sentimentos.

Concluindo, a maternidade é uma jornada individual, mas não precisa ser solitária. Os desafios podem ser enfrentados com mais leveza quando a mãe conta com uma rede de apoio.

Sentir culpa ao cuidar de uma criança pode ser, até certo ponto, saudável. A neurociência explica que a culpa está relacionada à empatia e à responsabilidade social. Quando uma mãe sente culpa, seu cérebro ativa áreas ligadas ao vínculo e à proteção.

No entanto, é fundamental refletir sobre esses sentimentos e reconhecer seu impacto na vida cotidiana. Se a culpa estiver prejudicando sua rotina ou seu bem-estar, é importante buscar ajuda psicológica.

É normal sentir-se cansada da maternidade às vezes. Todas as mães enfrentam momentos de cansaço ou frustração em algum momento. O importante é lembrar que sentir isso não te torna uma mãe ruim. Reconhecer e expressar esses sentimentos pode ser libertador.

Dra Renata Libano 
Médica da Família e Comunidades
Gestora do PAIS